terça-feira, 15 de outubro de 2013

Agustina Bessa-Luís.
A eterna infância da mais adulta das letras

Por Jornal i

publicado em 15 Out 2013


A autora de "A Sibila" comemora hoje 91 anos. 

Em dia de aniversário, a felicidade da prenda desembrulha-se com os livros, e os leitores agradecem o presente da "indomável" Agustina, como a definiu Eduardo Lourenço. Recua a 1954 a relação da escritora com a editora Guimarães, actual chancela Babel, que há um ano, por ocasião do seu nonagésimo aniversário, inaugurou uma colecção dedicada em exclusivo à autora de "A Sibila". Sem editar desde 2006, ano de "A Ronda da Noite", a escritora duriense cumpre hoje 91 anos recheados de romances, contos, ensaios, memórias, peças de teatro e biografias. Géneros suspensos desde que se afastou da vida pública por motivos de saúde, de que nos chegava então novo vislumbre de uma trajectória cheia. Hoje há razões redobradas para a desfrutar nas livrarias da Babel, que oferece desconto de 20% na compra de um volume da autora, bastando para isso que apresente este jornal no acto da compra.
Quanto à escolha, não faltam hipóteses. Começando pelas mais recentes, em termos de data de edição, basta recuar a 2012, quando, para assinar a efeméride redonda reservada a Bessa-Luís, a colecção Contemplações editou pequenos trabalhos da escritora, sobretudo de natureza ensaística. "Kafkiana" marcou a estreia desta série, com a reunião de quatro textos com reflexões de natureza literária sobre a situação do homem kafkiano face ao mundo e a ele próprio. No segundo volume da colecção, um conto assinado e datado de 9 de Junho 1951. "Cividade", assim se chama, recebeu nesse mesmo ano o primeiro prémio de ficção nos Jogos Florais do Minho, aos quais concorreu com o nome do marido, Alberto de Oliveira Luís. Um enredo em que "Agustina chama um tempo e um cenário de infância, de quando passava férias na Quinta de Cavaleiros, perto da Póvoa de Varzim. Este imaginário, tão especial para a autora, vem a ser retomado em textos infantis, e mais tarde no romance 'Antes do Degelo'", explica a editora.
Já em 2008, a Guimarães encetara a edição da "Opera Omnia", uma colecção da obra da escritora nascida em Vila Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922, com capa dura e textos revistos. Aos dez títulos inicialmente disponíveis nos escaparates juntou-se "Breviário do Brasil", país presente no espírito da autora desde a infância, onde aliás recebeu o Prémio Camões em 2004. A redacção da obra foi concluída no Porto em Junho de 1989.
Nome maior da literatura nacional, Agustina estreou-se como romancista em 1948, com a publicação do romance "Mundo Fechado", a que se seguiu "Os Super-Homens" (1949). Galgou décadas a explorar a condição do homem e do seu mundo, intrometendo a provocação com o seu estilo muito próprio, distinta herdeira de Camilo Castelo Branco.

Embrenhada na leitura desde o tenro convívio com a biblioteca do avô materno, começou a escrever histórias a partir das estampas que recortava para servirem de ilustrações, como recorda na videobiografia "Agustina Bessa-Luís: Nasci adulta e morrerei criança", onde se revela ainda a afinidade com o cinema, com a adaptação ao grande ecrã de muitas das suas obras, missão confiada a nomes como o do decano Manoel de Oliveira, por exemplo com "Vale Abraão" (1993) ou "O Convento" (1995), inspirado em "As Terras do Risco".